sexta-feira, junho 25, 2010

Sempre fui uma fã incansavel de Caio Abreu, sempre que viajo, trago comigo suas canções verticais, poemas cantados, quase gritados, que me rasgam o coração, me encantei por esse há muito, e não mais tinha lido, relido, dilacerado. Ontem esbarrei com ele em algum canto do interior desse vazio, e gelei, inerte, aqui dentro, eu me vi nele, não tenho dúvidas, Caio escreveu para mim, por inúmeras vezes me ocorreu com todas as letras da mesma forma, numas outras quentes, noutras frias por demais, mas ocorreu assim, sem hora marcada. M.k

"Fico tão cansada às vezes, e digo pra mim mesma que está errado, que não é assim, que não é este o tempo, que não é este o lugar, que não é esta a vida. E fumo, e fico horas sem pensar absolutamente nada: (...)
Claro, é preciso julgar a si próprio com o máximo de rigidez, mas não sei se você concorda, as coisas por natureza já são tão duras para mim que não me acho no direito de endurecê-las ainda mais.
Mergulho no cheiro que não defino, você me embala dentro dos seus braços, você cobre com a boca meus ouvidos entupidos de buzinas, versos interrompidos, escapamentos abertos, tilintar de telefones, máquinas de escrever, ruídos eletrônicos, britadeiras de concreto, e você me beija e você me aperta e você me leva pra Creta, Mikonos, Rodes, Patmos, Delos, e você me aquieta repetindo que está tudo bem, tudo bem."

Caio Fernando Abreu

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